sábado, 15 de janeiro de 2011

Qual será sua aposta?


No tempo de um desprendimento de alma, fiz-me branca esquecendo a vida que já me pertencia, retomei velhos hábitos, experimentando o mundo velho e conhecido, passeie por cima da tua breve morada naqueles dias dourados para ti, em um bairro que parece não envelhecer, que se mantém quase que atemporal em suas luzes douradas de fim de tarde.
Invadi uma velha casa que estava de portas abertas a procura de guarida, nas ruas atormentadas daquele local muitos fizeram o mesmo, inclusive vc, vc que lá se alojara, naquela enorme e vazia casa, meio úmida e bagunçada, em um canto escuro fizera para ti um pequeno lar, com todas as suas histórias tu fez um teto, com memórias paredes e do teu talento fez um chão. No teu pequeno casebre de estruturas frágeis, vc guardou e expões parte da tua alma entre pequenos relicários e quinquilharias, muitos entraram em seu casabre, alguns convidados, outros não, porém todos de passagem, e eu que procurava repouso para meus pés doloridos, da longa jornada desta vida, bati em tua porta e pedi abrigo, porém antes da resposta, sentei-me em tua mesa, comi da tua comida, embriaguei-me da tua bebida e fiz dos teus irmãos meus amigos. Nos dias em que teu pequeno palácio foi meu albergue, passou por meus olhos parte da alma do mundo, todo o mundo que me assusta, que faz eu me esconder, me guardar dentro de mim para que parem de me rasgar a pele e me arrancar pedaços, por isso chamei minha dama de companhia, minha protetora e irmã, parte de mim, para que estivesse a minha frente nesse lugar, para ninguém me pudesse fazer mal.
Ela, com toda sua destreza em manipular pessoas, fez daquele reduto uma festa, laçou a volúpia no ar e lembrou a todos que desejos são para serem satisfeitos, tornou a jogatina um vício, e a embriagues objetivo, e quando seus olhos caíram sobre tí, excitou-se na alma, na pele, nas narinas e em mim, despertando luxúria prometida porém adormecida para outros.
Nas pedras brancas com pontos negros, a postavam-se almas, sangue, suor, sexo e cervejas, ali decidia-se quase que sem critérios o destino de algumas pessoas, ousei naquela mesa de apostas, apresentar-lhe Ela, e com voz baixa sussurrando em seu ouvido, Ela lhe disse:
-Prazer Alice.
Noites barulhentas aquelas, e nos teus intensos olhos, desejo por Ela, entre tantas Ela seduziu a tua vontade, a tua necessidade não satisfeita por outras, e aceitou o convite para teus lençóis que fervem, Ela dormiu contigo, vc acordou comigo, Ela dormiu com outro. Estranho acordar com alguém que não se conhece, não sei quem é vc, não me deitei com NENHUM homem, e este não é o homem com quem me deitei. Há algo de diferente em vc, seus olhos já não estão tão intensos e vazios, na verdade estão doloridos, é isso, isso msm, vejo uma pequena dor em seus olhos. Desculpe não é da minha conta.
Talvez eu volte amanhã, talvez Ela, com certeza ela, Ela voltou, e continuou com o desejo em sua boca, e a presença do outro, que era teu, mas não vc, lhe fervia o sangue de cobiça, e o sexo de anseio, já eu, quase sem saber te desejava, não para mim, mas comigo.
Nas pedras brancas com pontos negros, a postavam-se almas, sangue, suor, sexo e cervejas, ali decidia-se quase que sem critérios o destino de algumas pessoas, ousei naquela mesa de apostas, apresentar-lhe Ela, e com voz baixa sussurrando em seu ouvido, Ela lhe disse:
-Esse é o meu jogo, minha sorte, seu amor, minha aposta.

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